é bom pra se pensar.
Há um bocado de sentimentos em nós, uns mais agradáveis, outros nem tanto. Há alguns como a fúria que em sua erupção queima a todos, igualmente, de onde parte e aos que tocam. A fúria é como lava, apenas queima. Compreender as situações geradoras permite identificar se tais sentimentos se legitimam ou merecem ser, cuidadosamente, compreendidos e tratados.
Na recorrência de outros tantos sentimentos nada encantadores de se sentir, como arrependimento, inconformidade, angústia ou desesperança, há saídas possíveis. Ao meu ver, se encontra na calmaria da verdade. Essa sua verdade que afaga sua consciência e dá ar aos pulmões, que mesmo ofegante, respira. Uma vez que desconhecemos a nossa verdade, a fresta se escancara e a (des)ilusão sombria abraça-nos com uma sincera nota de conforto no paladar, que ai de vir a ser amargo em sua digestão.
Mastigando, digerindo e excretando os sentimentos, quaisquer que sejam, uma hora essa doce endofagia irá desintegrá-los e restará ainda muitas outras coisas. As sensações do que podia ter vivido, as desculpas que poderia ter pedido, os conselhos que deveriam ser ouvidos e as ações que necessitavam ser cumpridas. Tudo isso é carne putrefata de cadáveres vivos e, no fim, estamos todos em maior ou menor decomposição.
Nessa brincadeira da vida, a cobra engole o rabo e o rabo engole a cobra, num fluxo interminável de recepção daquilo que semeou. E, se a calmaria da verdade banha seu corpo, saberá que a certeza do fio da navalha em que caminha, dificilmente te dilacera. Entre expansões e contrações, amores e desilusões, confiança e deslealdade, a vida continua e se refaz na expressividade cotidiana de saber que oferecemos aquilo que temos e dormimos como felinos emaranhados em si, ronronando afagos.