Só queria dizer que faço suruba de uma forma descompromissada.
Foi pra cidadezinha histórica no interior de Goiás, destino frequente de quem mora em Brasília e quer fugir pralguma realidade minimamente normal no fim de semana.
Por lá, perambulou pelas ruas calçadas de pedra admirando as casinhas brancas de janelas coloridas, comeu e bebeu bem.
Mas o que de fato tinha ido fazer lá, percebeu enquanto entortava o pescoço pra ver artesanato nas janelas das lojas, era finalmente comprar uma colcha de retalhos que caísse bem na sua cama “queen” até hoje sem graça no quarto de resto muito branco da Capital Federal.
Entrou lojinha por lojinha e viu tapetes de tear, cabeças de boi de papel marchê, vasos de barro, xícaras de latão; mas colcha, das de retalho, nenhuma.
Por fim, desistente, depois de tomar chuva na feirinha em que disseram que Cleide com certeza venderia os tais retalhos, mas nada, teve um lance rápido com uma colcha de chitão, infelizmente para camas de solteiro.
Na manhã da partida, enquanto pagava as águas que a ressaca o fez pegar do frigobar, viu com o canto do olho uma pontinha colorida no mostruário da pousada. Riu pra moça da recepção e perguntou, a esperança já urubuzando o coração, se por um acaso não havia ali uma colcha de retalho à venda.
Ela disse sim, uma, mas só para camas “queen”.
Saiu da pousada feliz, a colcha sem nem embrulhar dobrada sobre o banco de trás do carro do namorado.
Uma vez em Brasília, largou tudo na sala, fez que não viu o gato miando e foi direto cobrir a cama, que ficou perfeita com a colcha salpicada de vermelho e branco e amarelo e azul e flores e xadrez e bolinhas e ramos de flor.
sentou de cueca no canto do cômodo, as costas suando os 35º contra a parede, e ficou rindo pra colcha, até que pensou: é linda, exatamente o que queria, mas não dá pra chamar gente pra suruba com isso na cama, não.
Iria chamar mesmo assim.